Uma dimensão paralela. Onde esta é a única porta de ligação. Aquilo que ninguém conhece. Aquilo que está bem escondido por dentro de um recipiente banal.Aquela dimensão que toda a gente esconde mas só alguns dão a conhecer.Eu sou uma delas.

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Carta de Desmotivação

A Desmotivada
No Reino de Bué Bué Longe

To whom it may concern


Assunto: Carta de Desmotivação em resposta ao anúncio xyz


Venho por este meio informar vossa excelência que não me vou candidatar ao posto em concurso nesta vossa instituição.

Terminei a licenciatura em A.P.C.T. com uma média mediana, passo a redundância...naquele número k se encontra nos ¾.....nem é 20 nem é 10...é positiva...mas lá no meio. Reflexo daquilo que se pode descrever como “uma boa experiência estudantil em meio académico” apesar de contrabalançar com o “constante posse do estatuto-trabalhador estudante a full-time, já que as bolsas de estudo a 100% servem filhos e não enteados”.

Continuei os meus estudos académicos tendo terminado o mestrado em métodos biomoleculares, mas desta vez já subindo dois degraus na média; porque sigo sempre aquilo que me dizem, e a mim disseram-me “prá frente é que é caminho”, e como a escada rolante estava avariada, apenas subi dois degrauzinhos. Também a escada não é longa, faltava-me mais 3 degrauzecos para chegar ao topo. Positivo portanto.

Segui também as passadas dos nossos antepassados marinheiros e decidi-me lançar “overseas” tendo desaguado no porto de Bristol, cidade irmã da minha. Aqui comecei a “vergar a mulher do burro” já há praticamente 1 ano e meio. Por isso agora que penso que a “mula” já está a bater com a dentadura no chão, pensei por bem regressar pelo mesmo caminho de onde vim.

No meio da caminhada o que poderei salientar? Pós graduações? Sim. Comunicações orais em língua inglesa? Sim. Prémios de posters? Sim. Participação em congressos internacionais com certificado de mérito? Sim. Publicação de artigo científico? Em progresso.

Trabalho em Portugal? NÃO.

Não queria que me entendesse mal...Isso não é um louvor à minha falta de humildade. Até porque a tenho e em quantidades superiores ao q.b. Mas acho que chega de sorrisinhos amarelos quando continuo a ser constantemente pontapeada pelo meu próprio país.

Queria voltar? QUERO.

Posso? NÃO.

E porquê? Porque não tenho pais ricos, nem tenho conta no BES. Porque não tenho um tio na direcção desse laboratório importante, ou porque a minha prima não tem de Azevedo no nome, ou porque a minha mãe não tem Dra. a iniciar o nome no B.I.

Só me resta uma pergunta: porque insistem em pedir carta de motivação e c.v. detalhado para candidatura? Não seria mais útil uma árvore geneológica?

Fico a aguardar uma mudança de mentalidades e que em Portugal o processo de contratar pessoas pelas suas reais qualidades e não por factores que em nada vão ajudar o desenvolvimento do país ou especificamente da instituição empregadora, passe a ser generalizado e não um movimento estranho e raro característico de meia dúzia de gatos pingados.

Sem mais de momento me despeço com cordiais cumprimentos,

A desmotivada.

4 Comments:

Blogger Susy said...

isto é TAO verdade. passa-se o mm com toda a gente. também eu gostava de voltar mas não posso. Não devo.
é triste não te darem valor pelo que és mas pelas influências que possas ter. Mas a verdade é que apesar de os meus pais não as terem, deram-me o arcaboiço para vir para aqui e encher a minha conta bancária de zeros (ok, é exagero). Algum dia eles vão valer de alguma coisa e aí é a minha vez de virar costas a quem já me as virou a mim.. faz o mesmo ;) porque esse dia vai chegar!

1:22 da tarde

 
Anonymous Benzodiazepina said...

Encontrei o teu blog por acaso e adorei este post, sou enfermeira recém-licenciada e também quero sair de cá... farta de cunhas, de esquemas e afins. E até porque a área que gostava de trabalhar aqui em Portugal só no fim da carreira é que se consegue lol.
Adorava escrever uma carta assim e mandá-la para todos os hospitais portugueses depois de já estar no reino unido, só para sentir o meu ego a florescer!

Muitos Parabéns pelo teu sucesso fora de portas! E continua a progredir para o país que te acolheu porque este rectângulo está-se a borrifar...

4:15 da manhã

 
Anonymous Anónimo said...

olá! Folgo em saber que na APCT existem pessoas que pensam como eu. Significa que ainda existem uma esperança para a nossa profissão, e que quem sabe é esta nossa geração ( temos a mm idade) que vai fazer ALGUMA COISA para mudar ALGUMA COISA!

NJDV

12:25 da manhã

 
Blogger Siouxie said...

Obrigada por todo o feedback...

E sim..eu acho que esta é a "nossa geração em apct"...

Siga pessoal!

4:20 da tarde

 

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